25 August 2006

Ontem eu fui apresentada a um brasileiro bem legal chamado Julio Cesar Caruso. Assim mesmo, sem acento no Julio ou no Cesar. O que tem de legal sobre ele? Caruso tem uma mente aberta, adora o Japão, não planeja o futuro para evitar decepções, expectativas frustadas e, também porque prefere viver um dia de cada vez. "Gosto de curtir a vida", me explicou ele. Esse carioca de 30 anos veio para o Japão pela primeira vez quando cursava o segundo ano da faculdade de Letras (UFRJ). Aqui no Japão, depois de muitas idas e vindas, conheceu uma japonesa chamada Tomoe, que hoje é sua esposa e com quem teve uma filha de pouco mais de um mês, chamada Karen. Detalhe: quando ele veio para o Japão, a Tomoe estava morando em Goiás. Faltando poucos meses para terminar a estada dele no Japão, ela regressou ao país natal e os dois se conheceram. Um professor de português a apresentou a ele, dizendo que uma japonesa havia regressado do Brasil e queria, simplesmente, praticar português. Pode?!? É o famoso quando tem de ser, será.

Julio Cesar se apaixonou pelo Japão meio que por acaso. Ainda adolescente, era fascinado pela cultura americana. Estudava inglês desde os oito anos de idade e chegou até a ser professor da língua Inglesa. Até que um dia se viu diante de um livro escrito em japonês. "Foi meio amor à primeira vista. Fiquei fascinado com os textos escritos em pé", recorda. O primeiro passo para se aproximar da nova cultura foi estudar com um professor particular. "Nessa fase eu passava o dia todo falando watashi no namae wa (meu nome é) e já achava que sabia japonês", comenta sorrindo – aliás, Caruso rir muito, é super simpático e agradável de bater papo.

Bom, a paixão pelo japonês começou a gerar problemas na escola. "Eu sou queria saber de japonês, então minhas notas nas matérias da escola começaram a cair". O pai deu uma dura e o proibiu de estudar japonês até que ele concluisse os estudos. "Depois disso, ele disse que eu poderia estudar até hebraico, árabe, o que fosse", relembra. E assim ele fez. Desde cedo, Caruso aprendeu a ceder um pouco aqui para ganhar um pouco ali. E nesse jogo de ganhos e perdas ele vai levando a vida até hoje. Um jogo de cintura que, acredito, ajuda ele a conviver tão bem com as diferenças entre as culturas brasileira e japonesa.

Casado com Tomoe, ele usa esse aprendizado acumulado ao longo da vida para uma convivência harmoniosa - e para, também, conseguir convencer a mulher a ceder um pouco. "No começo, acho que ela imaginou que fosse tudo do jeito japonês. Aí, aos poucos, eu mostrei que seria melhor se fosse metade-metade. Sem imposição, de forma pacífica. Então, hoje se vamos comer de hashi (os palitos japoneses), teremos feijão em casa. Se eu tiro meus sapatos antes de entrar em casa, no domingo ouviremos meu pagode", comentou.

Caruso tem uma coisa bem parecida comigo, a de evitar ficar comparado o Brasil com o Japão ou com o lugar onde se mora. Tem brasileiro que é meio um saco de se conversar no exterior porque eles têm mania de dizer que tudo no Brasil é melhor. Acho que viver assim deve ser muito mais sofrido, sem contar que não se aprende nada sobre o outro país. Afinal, tudo é visto como inferior. Então, Julio Cesar tenta se adaptar e respeitar à cultura do País onde vive, no caso o Japão. "Quando minha mulher estava grávida com sete meses, o medico dizia que não dava para saber o sexo do bebê. Claro que eu pensava que se estivéssemos no Brasil nós já saberíamos há muito tempo, mas eu não falei nada. Afinal, esse é o jeito que eles fazem as coisas aqui".

Mas, lógico, o sangue latino corre nas veias e, às vezes, não dá para engolir algumas coisas a seco. Ele me contou que um dia estava passeando com a esposa e uma amiga quando a amiga anunciou que iria se casar em breve. Para a surpresa dele, quando receberam o convite do casamento, o mesmo era endereçado só a mulher dele. "Ela não me convidou. Olhei para minha mulher e perguntei: não foi essa amiga que contou para nós dois juntos que iria casar? Como é que ela manda o convite agora e não me convida?" Inconformado, Caruso ligou para a sogra (japonesa) para fazer a consulta sobre o que ele achou ser, apenas, falta de educação. Aí, a sogra explicou que aqui no Japão isso é comum porque o número de convidados é limitado. Ele entendeu, engoliu, mas até hoje se refere a tal amiga, como a má educada.

E assim ele vai vivendo. Não tem planos de voltar para o Brasil, a não ser que fosse para trabalhar no Consulado do Japão no Flamengo, e morar de frente para a praia em Ipanema. Afinal, ele diz que leva uma vida confortável aqui e que gosta muito do Japão. Acho que é um daqueles casos que a gente nasce num lugar, mas o espírito da gente pertence a outro – sem que nem a gente saiba ou planeje. Os mistérios da vida....

2 comments:

Karina Almeida said...

eu conheço o julio cesar : )

mas, aqui no japão, ele é mais conhecido como caruso porque na empresa que a gente trabalha julio é o que mais tem. hihihi...

ele é realmente gente boníssima, nunca tá de mau humor e não me canso de falar que ele é um "taRento" (é assim que os japoneses chamam os artistas) desperdiçado!

não sei o que ele tá esperando pra trabalhar na nhk, fazendo novela, sendo apresentador daqueles programas de entretenimento ou dando aula de português para os japoneses...

xii, meu comentário virou um post! gomen nasai!

adorei o seu post!

bjinhos, karina.

Gisele Scantlebury said...

Karina, obrigada pela visita e pelo comentario tambem. Pois eh, o Caruso eh uma figura!!! :)