02 November 2006

Nova entrevista...

A Vanessa Berry (foto) é uma amiga querida que mora na Nova Zelândia e que também é jornalista e blogueira. Ela sempre visita meu blog e depois que leu a entrevista com Paul teve a idéia de me entrevistar também. Abaixo as perguntas da jornalista Vanessa e as respostas da blogueira Gisele.

Vanessa: Do momento em que soube que iria pro Japão até hoje, o que mudou em relação aos seus sentimentos e sua aceitação a começar tudo de novo, nova língua, novo país e nova adaptação?
Gisele: A ficha demorou muito para cair. Aconteceu muita coisa antes de chegarmos, incluindo nosso casamento. Aliás, acho que a ficha de que passaríamos a morar em um outro País só caiu mesmo quando desembarcamos aqui. Percebi o pouco que sabia da nossa nova morada e o quanto eu precisava me esforçar para me adaptar. Tudo é muito diferente. Com a ajuda de amigos, aos poucos as coisas foram e vão se encaixando. Tenho dias bons e dias ruins.

V: Você se sente mais estrangeira no Japão do que na Nova Zelândia?
G: Sem dúvida, aqui no Japão. A fisionomia diferente (olhos redondos, corpo mais cheinho) chama atenção de algumas pessoas. Sempre encontro alguém com olhar de raio-x para mim dentro do metrô ou do trem. O fato de ser completamente analfabeta em japonês aumenta o sentimento de exclusão.

V: Existe tratamento diferente pra brasileiros e/ou estrangeiros?
G: Para estrangeiros de uma forma geral, não sofri até agora nenhum tipo de tratamento diferenciado por ser brasileira. É mais por ser estrangeira mesmo. Para mim, é um misto de preconceito e medo do desconhecido também. Ninguém nunca me tratou mal, do contrário, mas é fácil se sentir discriminado aqui. No começo, por exemplo, percebia que as pessoas não sentavam ao meu lado nos trens ou metrôs. Preferiam ficar em pé a dividir o espaço comigo. Hoje estou mais relaxada quanto a isso e não ligo tanto, mas antes ficava me perguntando se eles achavam que eu tinha alguma doença contagiosa.

V: E a saudade e ligação com o Brasil, aumenta ou diminui com todas essas mudanças e experiências?
G: Acho que a saudade aumentou. Na Nova Zelândia eu me sentia em casa, então estava mais acostumada à minha rotina. Aqui me sinto uma estranha fora do ninho. Tenho sentido muito vontade de ir para o Brasil. Mas, só para visitar. Sei que me sentiria uma estranha de volta ao Brasil também. Não é mais minha casa. Por outro lado, minha relação com minha família se tornou mais intensa. Meu pai me liga praticamente toda semana. Também tenho ligado mais para minha irmã. Até meu irmão está se tornando um internauta agora e temos conversado pelo MSN. Coisa impensável para mim (risos).

V: Qual dos três países você acha ideal pra criar filhos, se puder escolher - Brasil, Nova Zelândia ou Japão?
G: Sem dúvida, Nova Zelândia. Sempre disse que é o melhor lugar do mundo para se criar os filhos. Hoje tenho ainda mais certeza disso. Minha segunda opção é a Austrália. São dois lugares onde penso que existe uma infra-estrutura ampla para os pimpolhos. A rede de apoio às mães também é grande. Aqui meu filho seria tratado como estrangeiro e não quero isso. Se tivermos um filho aqui no Japão, ele não é japonês. Filhos de estrangeiros aqui (quando nenhum dos pais é japonês) recebe a nacionalidade dos pais, mas não terá cidadania japonesa. Seria tudo muito complicado.. uma loucura de nacionalidades, línguas. Não sei se eu tenho estrutura para isso.
Claro que acidentes podem acontecer... (risos).

V: Existe alguma coisa que ainda seja muito difícil de aceitar ou se adaptar, além do idioma?
G: Honestamente, acho que o idioma tem sido meu grande obstáculo. Se eu conseguisse ler, me comunicar melhor, acho que estaria aproveitando mais.

V: Os brasileiros do Japão são parecidos com os que você conhece na Nova Zelândia?
G: Não. Quer dizer, brasileiro é sempre brasileiro. Mas, são histórias bem diferentes. Acho que na Nova Zelândia, os brasileiros abraçam mais a cultura e o estilo de vida (confortável) neozelandês. Aqui tudo é muito difícil para a maioria deles e muitos sequer têm a chance de conhecer o Japão porque trabalham 12-14 horas por dia. É uma realidade mais sofrida, eu penso.

V: Qual foi seu momento mais inesquecível nesses últimos três meses e por quê?
G: Ainda não tive O momento, mas várias ocasiões que foram especiais para mim, como dia que reencontrei a Cláudia e o Ricardo no aeroporto (eu conheci eles na NZ em 2004 e achei que não os veria de novo); quando nos mudamos para o nosso apartamento; e, também, o dia em comecei a trabalhar no jornal. Nesses três meses muita coisa aconteceu, muitas descobertas e frustações também....

9 comments:

Anonymous said...

Gisele,

valeu a entrevista. Serviu para termos uma noção mais exata dos teus sentimentos/comportamento em relação ao povo japonês.
Um beijo enorme
Elias

Gisele Scantlebury said...

Paizão, que bom que você gostou. A idéia da Vanessa era essa mesmo. Beijos!

Anonymous said...

Como direi? Maneirissimo(rs). Tanto as perguntas como as respostas. Arrasaram as duas. Eu, como brasileiro no Japao, entendi e concordei com a maior parte...do lugar vago no trem, dos olhos de raios-x, da ligacao com a familia, da falta de oportunidade de conhecer o Japao, de os brasileiros nao abracarem mais a cultura japonesa. So nao tenho como concordar qto a criacao de filhos. Nao conheco outros paises nesse sentido, mas decidi que nao vou criar minha cria no Brasil. Para mim, aqui e o melhor lugar hoje. Para cria-la e para eu viver. Adoro esse lugar...

Karina Almeida said...

tambem adorei a entrevista. super legal : )

acho que voce sente pela nova zelandia o mesmo que eu sinto pelo japao. e apesar de eu AINDA (a esperanca eh a ultima que morre) nao dominar a lingua e ser completamente fora do padrao (altura, peso, olhos, cabelos...) eu me sinto em casa aqui.

foi amor a primeira vista! mas entendo quem veh o japao com outros olhos. eh realmente um pais muuuito diferente e que ainda nao entende bem os estrangeiros.

mas acho que se a gente demonstrar interesse e respeito pela cultura e pelo pais, se esforcar para falar pelo menos algumas palavrinhas em japones, os japoneses nao vao nos discriminar. pelo contrario, vao ficar muito felizes. eh claro que tem excecao. mas gente chata e mal educada tem em qualquer lugar : P

ai, desculpa. empolguei... quero dizer que estou aqui disposta a te ajudar no que for preciso para que voce se sinta feliz e a vontade aqui no japao (ateh parece que eu sou nativa ne. hihihi). ah e aproveitar pra te dar parabens pela iniciativa de estudar japones e passear bastante pela cidade. eh isso aih.

bjinhos : )

Gisele Scantlebury said...

Caruso, acho que não discordamos sobre onde criar os filhos porque, na verdade, concordamos em um ponto básico: não criá-los no Brasil. :p

Kari, obrigada. Você tem sido uma pessoa importante nessa fase de adaptação. Acho super bacana esse amor que você tem pelo Japão e ter abraçado o País como sua casa. Acho que essa é a chave para viver bem em "terras estrangeiras".

Anonymous said...

Alow Mafinha!
Gostei muito da entrevista, vc saiu de jornalista para entrevistada :)

Percebi o amor que você pela NZ, isso até me motivou ainda mais para repensar o rumo do meu mestrado, que venho adiando...

Embora vc esteja se sentindo um tanto fora do ninho, sei que vc vai superar isso com louvor!!!
Força que vc chega lá!!!
Bjo do Brasil!

Gisele Scantlebury said...

Dernom, dou a maior força para você ir estudar na Nova Zelândia. Acho que você também gostaria muito de lá. Obrigadão pela visita e agora, que sabe o endereço, volte mais vezes. :p

Anonymous said...

Gi,
Confesso que fiquei preocupada com algumas das suas respostas e posso imaginar como deve ser estar num pais em que nao se fala a lingua...Isso porque, quando cheguei aqui, meu ingles ja me ajudava a me virar e mesmo assim passei maus momentos! Alias, ate hoje ainda tenho, mas enfim!
De qualquer maneira, tenha certeza que tudo isso so vai te deixar mais forte e com mais bagagem de vida! Alias, Parabens por todas as conquistas!
bjos e fica com Deus

Gisele Scantlebury said...

Vanessa, nao fique preocupada nao. Esta tudo bem, eu juro. So tentei responder as suas perguntas com a maior sinceridade possivel para que voce (e os leitores) tivessem a exata nocao do que esta acontecendo. Beijos!